terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mensagem do Luiz

Acabo de bater um longo papo com o meu irmão Zé.
Me contou que esteve no antigo D.I (Departamento de Instrução) da PMMG e atualmente chamada de APM (Academia de Polícia Militar). O ensino militar foi criado lá no DI pelo seu pai quando o mesmo foi o comandante daquela unidade da PM.
Também me contou que quando cadete da PM nesse DI, o Manoel tinha um grande amigo chamado Alberto Silva que era cadete e colega do peito. Esse rapaz teve um acidente feio, um cavalo pisou na cabeça dele e o mesmo veio a falecer. O Alberto Silva gostava de cantar uma música chama "minha vida que parece muito calma, tem segredos que não posso revelar. Trata-se de uma música americana e que o Manoel solfejava sempre, lembrando-se do amigo. O Zé contou esta história para os cadetes da PM, quase 1.000 rapazes e moças perfilados e que não sabiam que o nome do setor esportivo chamado Alberto Silva da Academia  era em homenagem ao cadete acidentado. Contou que o Manoel foi o aluno nº 1 sempre daquela unidade da PM e veio a ser o comandante de lá quando criou a Escola Caio Martins. Em relação às Escolas, a história é longa e só pessoalmente para contar o que aconteceu. Irei à BH no início de dezembro e vou ver se consigo isto por escrito. Afinal é história que a gente precisa conhecer bem antes que acabem com a Caio Martins. . 
Fiquei entusiasmado em lhe contar essas histórias "quentinhas" para nós.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Texto de Cláudio Antônio de Almeida

SOBERBO

O fato de ser de origem humilde, pai sapateiro, mãe lavadeira, não seria argumento para Manoel José de Almeida baixar o topete para qualquer um. E isso era perceptível, só de observar o seu porte, sua imponência, sua coluna vertebral ereta. Não se curvava nunca, mesmo tendo os topetudos pela frente. E olha que foram vários em sua vida de menino, no meio de tantos adultos, donos da verdade.
Mas um episódio me chamou muito a atenção. Éramos pequenos e meu pai juntava todos os filhos ao seu redor na cama de casal e começava a contar histórias. Falava com a mesma desenvoltura sobre Bahr,  Bethoven, Chopin, Voltaire, Chopenhauer, Freud, sobre a Revolução Francesa, a Segunda Guerra Mundial. Eram momentos de muita atenção, pois o tempo era pouco para tanta curiosidade. Naquela época não existia televisão, então, meu pai chegava do trabalho e reunia todos os filhos na sala, ao redor da “radiola”, para ouvir músicas clássicas, de todas as vertentes. Os discos eram muito pesados e assim, ele empilhava as coleções ao lado do aparelho para facilitar a seleção, de acordo com seus critérios. Eram 78 rotações por minuto, assim, o disco tocava rapidamente, tendo que ser trocado a todo momento. Morávamos numa casa, em Belo Horizonte, de dois pavimentos. Ele teve a idéia de colocar um auto-falante nos nossos quartos, que ficavam no segundo andar. Assim, dormíamos embalados pelas músicas clássicas.
Mas os casos mais gostosos eram realmente aqueles que diziam respeito à sua vida pessoal, quando criança, nas revoluções de 1930 e 1932. A curiosidade era grande e, como as idades variavam, ele procurava ser suficientemente didático, para prender a atenção dos mais novos. Assim nossa infância foi muito rica, a despeito de não haver televisão, vídeos, computadores e até mesmo os incríveis celulares. E foi numa dessas que ele contou a história de quando atravessou a nado o Rio São Francisco, em frente a cidade de Januária, um dos pontos mais largos daquele que denominavam como o  “rio da unidade nacional”, por percorrer diversos Estados em seu percurso até o mar.
Pois bem, atravessar o rio São Francisco, para todo menino da cidade, era um desafio. Era mais ou menos como a sua primeira vez. Os mais velhos não davam maior importância ao feito, mas entre os garotos, era ponto de honra essa conquista. Passava, de alguma forma, a ser incluído numa turma seleta de garotos que conseguiam o feito. Realmente era uma grande façanha. Não consigo imaginar quantos metros distam de uma margem a outra, mas a força das águas é o bastante para assustar qualquer um a pensar em desafiar o Rio. E lá se foi Nezinho. Era seu grande dia. A meninada já sabia do seu desejo em romper aquela barreira. Já estava chegando a uma idade, 12 anos, onde a grande maioria já havia conseguido conquistar aquele feito. E não era somente atravessar o rio. Tinha que voltar, pois a casa dele ficava do outro lado da margem esquerda e, não se admitia a qualquer um o uso de uma carona numa canoa, para superar o cansaço. E bota cansaço nisso.  De constituição física franzina, Nezinho, sabia que o desafio teria alto custo. Naturalmente que seus pais e até mesmo os irmãos não poderiam tomar conhecimento, caso contrario iria haver uma proibição, pois sabiam dos riscos daquela travessia. Muitos foram os que se afogaram naquela investida. E lá vai Manoel de Almeida, rumo à margem direita do São Francisco. Ele já conhecia, ou tinha informações acerca dos pontos perigosos e aqueles passíveis de optar por uma mudança de percurso. Chegar ao outro lado foi algo de espetacular, mas e agora?  Tinha que retornar e a turma dos moleques estava lá para registrar a grande conquista do companheiro. Não poderia descansar e teria que retornar imediatamente às águas daquele caudaloso rio, imediatamente. As braçadas eram regulares, mantendo um ritmo tal que possibilitasse enfrentar os últimos momentos, que eram os mais delicados. Seu corpo já começava a não responder ao cansaço. A juventude sempre ajuda nesses momentos, mas... Para chegar à margem esquerda, no ponto combinado com os garotos, ele teria que saltar um pouco acima, mas o importante seria a técnica de singrar as águas de uma forma transversal. Sim, ele nadava contra a correnteza, melhor dizendo, quebrando assim, a velocidade das águas e não carregando seu franzino corpo para os pontos de maior profundidade do rio. E o cansaço estava vindo, e cada momento, mais intenso, fazendo seus frágeis músculos se tornarem mais doloridos. Percebeu que uma canoa passava a alguns metros, mas não pensou em pedir ajuda. As pessoas da canoa não se manifestavam, observando apenas o garoto debater com aquele turbilhão de águas. Num certo momento, já exausto, percebeu uma moita de capim no meio do rio. Aquilo era um sinal de que havia uma coroa de areia, onde poderia descansar um pouco. Esse tipo de coroa era comum ocorrer, devido ao constante movimento das águas, formando e destruindo montes de areia, dentro do rio. Nadou como um louco até aquela esperança e, quando segura o arbusto, sente que não tem nenhum apoio. Nada havia para abrandar eu inícios de desespero. As pessoas da canoa ainda o observam, não demonstrando qualquer preocupação ou esboço de ajuda. E lá vai Nezinho em direção àquela margem esquerda que é o seu maior desafio na vida. Sabia que aqueles metros finais iriam definir muita coisa em sua vida. Muita coisa estaria em jogo a partir daquele momento. Não poderia se entregar e deixar o rio levá-lo. Com certeza sairia muito abaixo, onde poderia com menor desgaste, alcançar um barranco para subir. Mas e a turma? Isso ai sim, é a grande questão. Só sendo menino para entender essa fração de segundos para uma tomada de decisão. A cada braçada, Nezinho sente que a margem está chegando e chegando. Faltando apenas alguns metros, eis que um dos ocupantes da canoa, estica o braço e oferece ajuda ao garoto. Este olha pra o rosto do infeliz, fixa seus olhos e segue em frente. Com mais algumas braçadas, chega até a margem e tem um sorriso que ilustraria a maior conquista de todos os tempos no mundo. O barqueiro observa aquele jeito matreiro do garoto e diz: SUBERBO. Esse era o Nezinho, menino de Januária, que atravessou a nado o Rio São Francisco, num dos seus pontos mais largos. Ficou famoso, entre os meninos, e deu uma aula de vida àqueles que procuravam tirar proveito de sua vitória. A mão estendida, nem sempre é bem vinda.





CLÁUDIO ANTÔNIO DE ALMEIDA

BRASÍLIA – AGOSTO DE 2012

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Discurso do Coronel Edgar Eleutério Cardosopronunciado na Academia de Letras da Polícia Militar de MG


Manoel José de Almeida
Centenário de seu nascimento - 23Set2012

                Tenho o prazer e a honra de ocupar a tribuna desta Casa  do Saber para cumprir a missão estatutária de elaborar o elogio ao Patrono de minha cadeira - a de número 9 - destinada a MANOEL JOSÉ DE ALMEIDA - Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais.           
            A oportunidade não poderia ser melhor, amanhã - dia 23 de setembro - comemora-se o Centenário de seu Nascimento.
            Gostaria, antes, de fazer um breve comentário sobre o que me levou a escolher Manoel José de Almeida como "patrono".
            Convidado a integrar a Academia de Letras João Guimarães Rosa da PMMG, apadrinhado pelo nosso distinto Presidente João Bosco de Castro, como primeiro Acadêmico-Efetivo Curricular a ter seu nome aprovado para a posse, tive a oportunidade de examinar o perfil de várias personalidades. Todos com qualidades e méritos para dignificarem a condição de patronos de uma academia de letras de Polícia Militar. Entretanto, um deles chamou-me a atenção de maneira especial: um educador dotado de fé, de idealismo, de fibra inquebrantável, persistência inabalável diante dos desafios do cumprimento de sua missão, um obstinado e, sobretudo, um EDUCADOR - MANOEL  JOSÉ DE ALMEIDA.
            Ele nasceu em Januária, a 23 de setembro de 1912. Desde criança, conviveu com as dificuldades que enfrentavam e enfrentam as famílias desassistidas que habitam as "barrancas do São Francisco". Ele próprio, apesar de nascido em família de algum recurso, se considera um "flagelado", como ele mesmo se apresentou em discurso proferido na Câmara dos Deputados.
            Ainda pequeno, trabalhava ajudando o pai José Antônio de Almeida, modesto comerciante - tinha um pequeno armazém - e no abate de animais de pequeno porte. Não podendo frequentar o Colégio com regularidade, pôde concluir o Curso Primário somente aos 13 anos de idade.
            Contrariado, ainda adolescente mudou-se para Diamantina, atendendo aos anseios da mãe - Dona Rita Dias de Almeida. Sua vontade era permanecer em Januária.
            Seguindo o exemplo do pai e na ânsia por antecipar sua maioridade, ingressou nas fileiras da Polícia Militar em janeiro de 1928, portanto com 16 anos de idade.
            Ainda jovem, teve o seu batismo profissional ou "batismo de fogo", como preferem alguns, ao participar da Revolução de 1930. Sua Unidade, o 3º BPM, recebera a missão de invadir e ocupar o sul da Bahia. Narra sua esposa Dona Márcia fato pitoresco ocorrido quando da ocupação da cidade de Carinhanha: sendo Manoel de Almeida o único soldado capaz de operar a metralhadora hot kiss da tropa, efetuou vários disparos em direção aos gritos provocativos dos adversários. Posteriormente, ao retornarem àquela localidade para instalarem o Núcleo da Escola Caio Martins, recebeu dos representantes daquela comunidade um sino com 2 furos. Inicialmente sem saber o significado do presente, foi-lhe esclarecido: o Coronel que ali se encontrava era o mesmo jovem soldado que um dia ali estivera e teria atingido a torre da igrejinha onde estava o sino.
            Pela sua participação no movimento, recebe sua primeira promoção: a de Anspeçada.
            Em 1932, por ocasião da Revolução Constitucionalista, foi designado para atuar no Triângulo Mineiro, quando a Polícia Militar de Minas ocupou a fronteira do Estado.
            Tendo concluído o Curso de Formação de Infantaria do Exército, no Rio de Janeiro, em primeiro lugar, pôde matricular-se no 2º Ano do Curso de Formação de Oficiais.
            Foi declarado Aspirante a Oficial em 1936, tendo concluído o curso também em primeiro lugar.
            Em 1937 Manoel de Almeida foi designado para Barbacena, cujo Cmt à época, era o Coronel Vicente Torres, um ícone profissional já conhecido na Corporação pela capacidade de comando - verdadeiro formador e condutor de líderes. Tornaram-se célebres: a trilogia adotada em seu comando - "Honestidade - Trabalho - Disciplina" e a decisão por ele tomada quando Comandante Geral da Polícia Militar - após recusa no atendimento de pleito junto ao Governo do Estado, no sentido de obter melhores condições de trabalho e remuneração digna  para seus comandados preferiu entregar o Comando sob o argumento de que "não comandaria uma tropa calçada de sandálias".
            A trajetória profissional de Manoel de Almeida prossegue... como que por desígnio do Criador, após rápida passagem pelo DI retorna ao sul do Estado, agora também como Delegado Especial nas cidades de Alfenas, Machado, Areado, Boa Esperança, Campos Gerais, Serrania, Botelhos e Alterosa.
            Segundo Helena Pretóvna Blavatsky "Não há coincidências, mas causas desconhecidas"...
            Manoel de Almeida, como delegado de Alfenas, é chamado a Boa Esperança a fim de apurar bárbaro homicídio ocorrido no município: um cadáver sem a cabeça fora encontrado em uma localidade. Como que por obra do destino conhece aquela que pouco tempo depois viria a se tornar a sua companheira missionária, o seu amor, a seiva vivificante que lhe ajudaria a cumprir os seus desígnios: Márcia Moreira de Souza. Com ela se casa em 24 de janeiro de 1941, a qual passa a chamar-se Márcia de Sousa Almeida. Nessa oportunidade, sabem que, juntos, teriam uma missão a cumprir.
            Logo após o casamento, acompanhado de Dona Márcia, sua companheira inseparável, segue para o Rio de Janeiro onde conclui o Curso de Educação Física do Exército, no Forte São João.
            Retornando a Belo Horizonte, tem uma passagem efêmera pelo DI, pois logo em seguida é designado para ser o assistente militar do Major Ernesto Dorneles (primo do então Presidente Getúlio Vargas), que exercia o cargo de Chefe de Polícia, ligado à Secretaria do Interior do Estado.
            Com a saída de Ernesto Dorneles, em 1942, é designado assistente militar do Dr. Luiz Soares de Souza Rocha, Delegado de Polícia, que passou a ocupar o cargo de Chefe da Polícia Civil. O Dr. Luiz Soares é considerado pelos profissionais de polícia que o conheceram um verdadeiro ícone. Prestou ele inestimáveis serviços à comunidade mineira. A Assembleia Legislativa criou a "Medalha de Mérito Policial Civil",  com seu nome,  para agraciar policiais civis, personalidades e instituições que, de alguma forma, contribuíram para a melhoria da segurança pública em Minas Gerais. É a maior comenda da Instituição.
            É nesse momento de sua vida que Manoel José de Almeida inicia a produção de sua grandiosa obra intelectual. São publicadas: "Coeficiente Afetivo" - "Integração da Personalidade" - "Polícia do Futuro", além de vários artigos publicados em revistas militares.
            Foi Chefe de Gabinete do Comandante Cândido Saraiva e, posteriormente, do Cel. José Vargas da Silva.
            Promovido a Ten.-Cel. recebe a honrosa missão de comandar o DI, onde tem a oportunidade de colocar em prática parte de seus sonhos.
            Elegeu-se Deputado Estadual para a Legislatura de 1955 a 1959. Posteriormente, por cinco vezes consecutivas, é eleito Deputado Federal. Tornou-se suplente para a legislatura seguinte. Contudo, apesar de surgida a oportunidade para assumir a cadeira no Congresso, preferiu não fazê-lo em razão de seu estado de saúde, já comprometido por problemas cardíacos.
            Dá o passo para a eternidade em 9 de maio de 1988. É o retorno à "Pátria espiritual".
            Deixou 6 filhos: Maria Coeli, Cláudio Antônio, Fernando José, Maria Ângela, João Lincoln e Rita Heloísa. Os netos: dezoito. Bisnetos: nove.
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            Cumprida a tarefa do registro de alguns marcos históricos, torna-se imprescindível cuidar das coisas mais importantes, uma vez que, falar de uma personalidade, é cultuar os seus feitos, as suas realizações; é exaltar as suas virtudes.
            Mas, antes, falemos um pouco sobre o "Sentido para a vida"...
            E o que é a vida?
            Guimarães Rosa, em sua obra sempre lida Grande Sertão: Veredas sustenta: “O fundamental na vida não é ponto de partida nem a chegada, mas a travessia”.
            De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?
            O que é a vida?
            Gonzaguinha, em sua bela canção O que é, o que é? diz:
                                E a vida!
                               E a vida o que é?
                               Diga lá, meu irmão
                               Ela é a batida De um coração
                               Ela é uma doce ilusão
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                               E a vida
                               Ela é maravilha
                               Ou é sofrimento?
                               Ela é alegria
                               Ou lamento?
                               O que é? O que é?
                               Meu irmão...
                               Há quem fale
                               Que a vida da gente
                               É um nada no mundo
                               É uma gota, é um tempo
                               Que nem dá um segundo...
                               Há quem fale
                               Que é um divino
                               Mistério profundo
                               É o sopro do criador
                               Numa atitude repleta de amor...
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                Filósofos, religiosos, pensadores, cientistas e leigos desenvolvem teorias mais diversas.
            Quem estará com a verdade?
            Klínger, nosso confrade e irmão fraterno, ao falar para os alunos da ADESG, manifesta sua opinião sobre a vida:
                                   "Por que, num certo dia, nascemos, fazemos uma caminhada e,                                      finalmente, morremos?
                                    Seria a vida humana um fim em si mesma? Seria uma luz que acende,                           vai acentuando o seu fulgor e, de repente, começa a fenecer, apaga-se? Se                                    positivo, então poderíamos raciocinar que, vivendo tão transitória e                                             fugazmente, o melhor seria adotar a postura do “gozar a vida”, adotar o                                               epicurismo, amealhar o máximo no mínimo de tempo (não importando os                            meios), proporcionar o máximo de bem-estar a mim e aos meus,                                                            mergulhar nos prazeres que o mundo concede. Quanto aos outros – os que                                    estão fora do meu mundo e de minhas circunstâncias – que se danem! Cada                             um para si, considerando apenas seu mundo particular. Outros ainda dizem                               cinicamente: "cada um por si, Deus por todos". Mas não é assim que as coisas                                  funcionam, isto é uma ótica             distorcida, egoísta, do que é a vida e sua                                       finalidade.
                                   A vida humana é tão somente uma passagem. Diríamos melhor: uma                               travessia. A travessia que, percorrendo caminhos nem sempre suaves, vai nos                                 levar a um patamar de ascensão.
                                   O nosso corpo que, de um ponto de origem no ventre materno, cresce e                        se desenvolve, é, apesar de sua fabulosa engenharia, um mero instrumento do                  sopro que o anima – a Alma. Esta é, segundo a visão preponderante do                           pensamento filosófico-religioso – cristão, judaico, hinduísta, islâmico... – o ente                                   nuclear da vida, o ente imortal. O corpo físico, não; com    a morte, fenômeno                                inexorável e inevitável, perde o seu fluido vital, decompõe-se no                                                 apodrecimento, caso não seja incinerado ou conservado sem vitalidade                                     pela mumificação ou outros processos de conservação da matéria.
                                   Dentro deste enfoque, creio, podemos nos aventurar a uma primeira                               ilação sobre a           natureza da vida humana. Ela, como travessia, é um meio de                               crescimento e desenvolvimento de seu elemento principal e fundamental: a                                Alma. Ora, mas não se cresce, não se alcança o progresso sem luta e                                      sofrimento. Ninguém vá esperar, ou alimentar a ilusão de que sua                                              passagem terrestre será uma estrada pavimentada de rosas perfumadas,                                    irrigada por abundantes mananciais de mel e prazer. Não! A vida é, como dizia                          o poeta que cantou a saga indígena, “uma luta renhida; viver é lutar; é combate             que, aos fracos abate; que, aos fortes e aos bravos, só pode exaltar”. E eu digo               mais: a vida é uma travessia penosa, sofrida e árdua, uma trajetória de perdas                             e ganhos, mas que acena com um fim glorioso – o triunfo espiritual,                                            com a Alma prosseguindo seu voo evolutivo.
                                   Aceita esta concepção do conceito da vida humana, o seu sentido                                  espiritual em detrimento do material, seria correta a maneira com que a maioria              vive, ou seja, juntando e acumulando: ouro, joias, terrenos, edificações, títulos                         financeiros, semoventes? Seria uma forma correta de viver gananciosamente,                               competindo, às vezes com violência ou fraude, e buscando sempre a vitória,                           mesmo que esta implique em excluir ou massacrar o próximo, que pode ser                              não apenas um, mas dezenas, centenas e até milhões de seres humanos que                                       vegetam na mais ignominiosa miséria? Seria correto o modus vivendi                             que só se direciona para o poder, honrarias e glórias?
                                   Não! É a resposta cristalina a todas essas indagações. Nem bens nem                          riquezas, nem poderio econômico, ou político, ou institucional, nem honrarias                             nem glórias mundanas seguem conosco na viagem final, quando a Alma                                imortal deixa o corpo físico. Esses bens materiais e ilusórios ficam, muitas                              vezes servindo para discórdia, desunião e lutas fratricidas. Tudo isto se                                             desfaz como poeira."
                Após comentar sobre o "TER", reflete sobre o "SER":
                                        Todo homem, criatura divina, estrutura-se nos planos físico, emocional                          (ou sensível) e espiritual. Segundo o pensador católico Michel Quoist e outros                                 de vertentes diversas como Lao-Tsé, Yang Tschou e Buda, entre os orientais, e                     Herman Hesse e Teillard de Chardin, entre os ocidentais, o homem é o                                     construtor de si mesmo, é ele que desenha o seu destino. E o homem bem                              construído é aquele que mantém o equilíbrio dos três planos, obedecendo à                                    hierarquia de comando: Quem comanda é o plano espiritual, o plano da alma.                                    O homem que deixa o corpo comandar, ou segue apenas os impulsos do plano                         sensível, é um homem truncado, que, às vezes, passa a vida em permanente                           desequilíbrio, ou até rastejando.
                                   Para “’’SER”, o homem tem que se construir, tendo por base princípios                          éticos que regem a trajetória evolutiva da Alma. Esses princípios, uma espécie                                    de leis morais do universo,vêm inatos na consciência do indivíduo, podem                          emergir naturalmente, ou são desenvolvidos  através do processo educacional:              na família, na escola, no trabalho, na religião, no relacionamento social... Há                           indivíduos rígidos, verdadeiras couraças, que bloqueiam qualquer tentativa de                            despertar interior. Cristo, em sua sabedoria, os classificava (Parábola do                                   Semeador) de homens “beira de caminho”, ou “pedregulho” ou “espinheiro”.
                                   Por conseguinte, o indivíduo que, na sua travessia, opta pelo “SER” em                         detrimento do ter”, acolhe e internaliza, refletindo nos seus valores de vida,                               alguns princípios éticos essenciais: Fé, Honestidade, Respeito à Dignidade                               Humana, Amor ao Trabalho, Visão de Progresso, Humildade, Coragem e                                  Justiça. Ancorando e cultivando esses princípios, o optante estrutura todo o                             seu arcabouço de valores que vão nortear a sua vida como filho, estudante,                              parceria na constituição de uma família, solidariedade na edificação de uma                               comunidade, no desenvolvimento de uma atividade profissional e em todas as                           suas relações sociais, econômicas, institucionais, políticas, religiosas...
                                   Quem “É”, ou seja, aquele que optou pelo “SER”, pode “ter”, isto é, pode                        e deve perseguir a prosperidade, o conforto, o desfrute das benesses da vida...               Certamente, de suas             posses não será o detentor egoísta – o acumulador de                             bens e supérfluos, o consumidor sem limites e irresponsável – mas sim o                             agente de circulação de riquezas, o gerador de empregos dignos, o detonador                                 do desenvolvimento econômico e social das massas, o impulsionador da                                tecnologia útil e acessível para o bem-estar da humanidade. Deve buscar o                                    poder, a política e a liderança, pois exercê-lo-ás com base no amor, para                           promover o bem-comum, visando o progresso da humanidade. (negritei).
             Nessa travessia, não devemos ter a pretensão de chegar a algum porto definitivo, final. É importante acreditarmos que sempre há algo a fazer, uma nova missão a cumprir... ou uma "dívida" a pagar.
            A amplitude da reflexão provoca-nos a renúncia... assim alcançamos a paz... É nesse momento que o homem descobre a si mesmo.
            MANOEL JOSÉ DE ALMEIDA era espiritualista. Acreditava no homem como obra de um Ser Supremo, capaz de evoluir...
            Conforme dito anteriormente, tão logo o Coronel José Vargas da Silva assumiu o Comando da Polícia Militar, designou o então Maj. Almeida como Chefe de seu Gabinete.
            Nessa condição e tendo apoio irrestrito do Chefe, Manoel de Almeida pôde concretizar uma série aspirações:
1. Escola de Iniciação Musical - implantada no Departamento de Instrução foi responsável pela formação de grandes profissionais que vieram a formar as bases das Orquestras Sinfônicas de Minas Gerais, São Paulo, Brasília e do Paraná. Foi seu fundador o Maestro Jean-François Douliez.
2. Curso de Psicopedagogia - vinculado ao Gabinete do Comandante-Geral.
3. Seminários de Criminologia.
4. Estudos de Mesologia Criminal.  Oficiais, professores e alunos tiveram a oportunidade de realizar viagem de estudo nos Vales do Aço e Rio Doce, inclusive indo até a reserva indígena Crenaque, com o objetivo de estudar os fatores de mesologia criminal na região, o que permitiu a Manoel de Almeida elaborar monografia sobre o tema.
5. Colégio Tiradentes. Além da versão registrada de forma clara e categórica no livro "Semeando e Colhendo", procurei ouvir uma das pessoas presentes à reunião em que foi elaborada a proposta de criação do colégio - o saudoso Cel. Saul, nosso irmão e confrade Acadêmico-Efetivo-Comunial. Em entrevista concedida a mim, na presença de João Bosco de Castro, Saul Martins confirmou sua presença ressaltando ainda as participações de Jofre Lellis e do Dr. Carlos Porfírio dos Santos que inclusive foi o primeiro Diretor do Colégio, escolhido em virtude de sua vasta experiência pedagógica. A escolha do nome "Tiradentes" coube ao Cel. Vargas, em homenagem ao protomártir da independência.

As Escolas Caio Martins
                                                                               Mais do que máquinas precisamos de humanidade.
                                                                              Mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura.
                                                                              Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido.
                                                                                                                                                              (Charles Chaplin)

            O tema merece destaque especial.
            Os problemas sociais a cada dia se agravavam em Minas Gerais. Era fato que isso também ocorria em outros estados, o que trazia intranquilidade ao então Governador Milton Soares Campos. A prisão de um perigoso assassino - José Muniz - vem apressar a decisão de se adotar uma política voltada para crianças desassistidas e desamparadas. O criminoso, ao confessar os diversos delitos, expõe a fragilidade das políticas de governo: quando criança, sua mãe, gravemente enferma não pode receber assistência na comunidade onde vivia. Tendo procurado de várias formas obter de forma honesta o medicamento que ela necessitava, não encontrou resposta. Assim, teve de roubar para poder comprá-lo, o que aconteceu de forma tardia; sua mãe falecera. Adotara assim a vida de marginal para "vingar-se de todos".
            O Comandante Vargas, aquiescendo à convocação feita pelo Governador, "amparar o  menor antes que se torne um foragido da justiça...", chama seu Chefe de Gabinete e paga-lhe a missão: ir visitar a Fazenda Santa Tereza, que era destinada à remonta de cavalos e que se mostrava improdutiva,  a fim de avaliar as condições de seu aproveitamento, dentro das ideias já existentes na PM de "criação de escolas-creche voltadas para assistir a criança e os menos afortunados".
            Acompanhado de toda a família, Manoel de Almeida visita a fazenda, reencontrando alguns amigos que lá moravam. É durante esta visita que vem-lhe o "estalo", o "despertar interior", e diz para sua esposa: "Márcia, e se a Polícia Militar aproveitasse a fazenda para abrigar menores abandonados?". Sempre apoiando suas ideias ela prontamente concorda, sabendo da longa, espinhosa mas gratificante caminhada que iriam iniciar. Estavam certos de que iniciavam uma obra que contribuiria para a edificação de uma sociedade mais justa e mais fraterna.
            Definida que a "missão" seria sua, Manoel de Almeida apresenta o "Plano de Organização de uma Granja-escola". Nele faz constar, além dos objetivos da Granja, sua sede, os recursos materiais necessários, pessoal, sua estrutura organizacional, as atividades a serem praticadas pelos menores, a duração do aprendizado, etc. Sugere o nome escolhido para a Escola. Deveria chamar-se Caio Martins, em homenagem ao menino-herói Caio Martins, escoteiro mineiro, que morrera em trágico acidente na Serra da Mantiqueira, quando do engavetamento dos vagões do trem que levavam o seu grupo para uma viagem de intercâmbio em São Paulo. Naquela oportunidade o jovem, apesar de mortalmente ferido, recusa-se a ser transportado em uma maca e pronuncia a frase que hoje é lema do escotismo: "O escoteiro caminha com as próprias pernas".
            No dia 5 de janeiro de 1948 é inaugurada a Escola, com a presença do governador Milton Campos, do Comandante-Geral e de várias outras autoridades.
            E o homem vai edificando o seu próprio templo. Cada um escolhe a sua trajetória. Nada acontece por acaso.
            Manoel José de Almeida, em sua simplicidade, acreditava que o processo de ensino deveria ser alicerçado, adotando-se o "Sistema de Lares", argumentando que uma criança precisava de um lar igual ou melhor do que ao que perdera. Deveria a formação daquelas crianças e jovens alcançar e integrar as 4 dimensões da consciência humana; a física, a mental, a emocional e a espiritual.
            Dona Márcia, em sua obra já citada, narra o que o Cel. Almeida dizia com convicção:
            " Foi feito um Plano. Estabeleceram-se as linhas mestras de um edifício que se projeta construir... a criança é construída aos poucos. O homem que ela será um dia é resultado do trabalho que se fez para construir este homem; aliás, cabe parafrasear ... o homem é filho da criança! ... Não desejamos ver esta Escola transformada em mero 'depósito de crianças'. ...tem uma intenção bem definida."
            Era um "laboratório vivo", onde a tônica prevalente sempre foi a de educar e assistir a criança desamparada. Manoel de Almeida fortalecia a crença de que agindo assim não teria que reprimir o criminoso que ela seria no amanhã.
            As palavras de Caio Martins  - "O escoteiro caminha com as próprias pernas" - ditas com desprendimento, com coragem, com o pensamento de que outro poderia se beneficiar com a padiola, passou a ser entendida no seu sentido mais amplo, simbólico, e em vários momentos da caminhada serviram de fortalecimento para a continuação da jornada, tamanhas eram as dificuldades que se apresentavam.
            Não foram poucas as críticas destrutivas recebidas, inclusive por parte de alguns colegas de farda.  Entretanto, as escolas também recebiam calorosos elogios de educadores de fama reconhecida, dentre outros: Helena Antipoff, Hazel O'Hara, Alaíde Lisboa, Eunice Weaver, Abgar Renault, Dr. Pedro Aleixo, Anísio Teixeira, Malba Tahan (Júlio César de Mello e Souza).
Pirapora - 1952
            E a missão se amplia...
            Disse Saint-Exupéry em Terra dos Homens: "O que salva é dar um passo. Mais um passo. É sempre o mesmo passo que recomeça..."
            Mais crianças desamparadas que entrariam para o laboratório das Escolas Caio Martins. O lema de Caiomartiniano "caminhar com as próprias pernas" continuava a funcionar com criatividade, flexibilidade e dinamismo. Novos desafios: agora um aprendizado voltado também para a família dos pescadores. Foi criada uma "Missão Rural Fluvial" para melhor atender a comunidade dos povoados ribeirinhos, com remédios, ensinamentos rurais, criando um ambiente propício para o "semear" de novos conhecimentos, tendo como alvo principal o pescador.
            A nova escola contou, desde a inauguração, com o apoio de "bandeirantes" formados em Esmeraldas.
Carinhanha - 1953
            Já estamos no Governo de Juscelino Kubitschek.  Tivera o estadista a oportunidade de conhecer as Escolas Caio Martins de Esmeraldas, inclusive acompanhado do Governador de Alagoas e esposa.
            Após a visita convocou o Ten.-Cel. Manoel de Almeida em seu gabinete. Disse-lhe que tinha um problema e que ele - Manoel - poderia ajudar a solucioná-lo: em Carinhanha, o Estado havia se apropriado de uma gleba extensa de terras e o governo estava com dificuldade para aproveitá-la, havendo o risco de ser ela adquirida por influente político, fato que poderia comprometê-lo politicamente. Reforçou: "eu quero ver aquelas terras cheias de crianças, levando alegria àquela região tão abandonada de nosso estado."
            Era mais uma "mensagem" a ser entregue... o Núcleo foi inaugurado em 23 de setembro de 1953 - dia do aniversário natalício de Manoel de Almeida.
            Esse núcleo contou com o apoio de 12 novos bandeirantes - meninos e adolescentes entre 12 e 17 anos. Cada um deles seria o responsável por criar e administrar, sozinho, um setor de atividade. Hoje, transformadas em cidade, Juvenília é grata ao Cel. Almeida, homenageado inclusive no Hino da Cidade.
O Comando do Departamento de Instrução
            Como Comandante do Departamento de Instrução revigorou o sistema de ensino, reformulando os currículos e redirecionando a formação dos oficiais para a "polícia do futuro", na qual acreditava.
A Jornada como Parlamentar
            Manoel José de Almeida era avesso à política. Não aceitava a ideia de candidatar-se. Contudo, tendo sido transferido do DI para o Quadro Suplementar, viu-se numa encruzilhada. Apesar de ter mais tempo para cuidar das obras nas Escolas Caio Martins via as dificuldades de obter apoio para mantê-las, apesar da fama positiva já construída e do apoio da comunidade.
            Viu, então, na política, a possibilidade de solução.
            Por sugestão do Deputado Último de Carvalho filia-se ao PSD e coloca seu nome à disposição do partido. Teve definitivo apoio do Governador Benedito Valadares, que contrariando a indicação do Presidente Juscelino, que manifestara sua preferência por Edgard Magalhães, de seu gabinete, indica seu nome para concorrer ao pleito. Em outubro de 1954, é eleito deputado estadual para a legislatura de 1955 a 1959.
            Tendo tomado posse como deputado, outras missões passaram a ocupar a sua vida. Deveria desenvolver novas habilidades que lhe permitissem continuar na sua marcha evolutiva e ascensional sem chafurdar-se na areia movediça do poder.
            Seu primeiro embate foi para defender a criação da barragem de Três Marias. A obra era mais do que justificável.  As águas do São Francisco, tendo regulado o seu fluxo, poderiam diminuir o sofrimento das comunidades ribeirinhas, quando das enchentes e atender as suas necessidades por ocasião das vazantes.
            Apesar das advertências do Presidente do seu partido, Manoel de Almeida lidera uma Comissão de Prefeitos da região para uma audiência com o Presidente Juscelino, fato determinante para que a construção da barragem se tornasse prioridade do governo JK.
            Como Deputado Estadual foi bastante atuante, destacando-se dentre outras iniciativas:
1. Projetos e Emendas em favor das Escolas Caio Martins (entrevista com Saul Martins).
2. Carteira Predial.
3. Criação do Departamento Social do Menor - e a criança desvalida se beneficia com o projeto que se transforma em Lei.
4. Criação da Escola Agrotécnica de Januária.
5. Projetos infraestruturais: construção de estradas, pontes, barcaças, rede de transmissão de energia, etc, para vários municípios do Estado.
            Durante esse período, são criadas duas novas escolas: Centro de Treinamento de São Francisco e Núcleo Colonial do Vale do Urucuia. Os bandeirantes do novo núcleo eram agora professores, já amadurecidos e mais preparados para o apostolado que iriam enfrentar, certos de que a obra seria mais rentável e de qualidade superior.
            . . .
            A missão se renova e se amplia. Novo passo a ser dado. Disse Saint-Exupéry:"Ser homem é precisamente ser responsável.  ...É sentir, colocando a sua pedra, que contribui para construir o mundo... A gente se sente tão bem, tão livre, quando está trabalhando a terra! E além disso, quem é que vai cuidar de minhas árvores agora?"
            Manoel José de Almeida elege-se como Deputado Federal no dia 3 de outubro de 1958, sendo diplomado no dia 13 de dezembro do mesmo ano.
            Reelege-se por 4 vezes consecutivas - legislaturas: 1963-1967 / 1967-1971 / 1971-1975 e 1975 / 1979.
            Como Deputado Federal, teve a oportunidade de dar um cunho mais amplo à sua obra de edificação do homem. Três iniciativas se mostram mais relevantes:
            1. Apresentou projeto, que resultou na lei que incluiu 22.000 K2 de terras mineiras da margem  do Rio São Francisco na área de operação da SUDENE. Com este projeto, modificou-se a fisionomia geoeconômica dos municípios de Januária, São Francisco e Manga.
            2.  Projeto de Lei Diretrizes e Base do Ensino Nacional.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       
            3. A obra de maior significado em que teve a oportunidade de participar na qualidade de relator - a CPI do Menor. O documento conclusivo apresentou "A Realidade Brasileira do Menor", tratando do tema sem que o mesmo estivesse coberto com o "manto diáfano da fantasia". A verdade foi exposta de forma nua e crua - a marginalização do menor; a quantificação do problema; as causas da marginalização do menor; educação; profissionalização; ação governamental; atualização do código de menores. A bússola apontava para o norte da solução ou minimização do problema.
            Manoel de Almeida deixou várias obras escritas - todas voltadas para a área social e do desenvolvimento humano. Podemos elencar:
            1. Roteiro Parlamentar;
            2. Escola "Caio Martins" - Desenvolvimento de seu Programa de Ação;
            3. Crédito e Pecuária;
            4. O Café e a Economia Nacional;
            5. A Realidade Brasileira do Menor;
            6. Os alicerces da Obra do São Francisco;
            7. O Drama do São Francisco;
            8. Reforma agrária;
            9. O Problema da Carne no Brasil;
            10. João Rafael - o Navegante do São Francisco;
            11. Extensão dos Benefícios do BNH ao meio Rural;
            12; O Problema de Furnas e o Condomínio Rural de Piuí;
            13. Fundação Nacional de Educação de Base;
            14. Brasília e sua missão histórica;
            15. Município, Célula e Base do Desenvolvimento Nacional;
            16. Política de Incentivo ao Produtor Rural.
            Saul Martins, ao prefaciar o livro de Dona Márcia e tratar das Escolas Caio Martins presta um testemunho luminar: "Manoel de Almeida era a coluna-mestra daquele templo de Educação. Mas um só pilar não sustentaria o edifício, tamanho era o peso das respectivas responsabilidades sociais, pedagógicas e administrativas. A seu lado, ergueu-se outra pilastra, a autora deste Livro esplêndido, Dona Márcia, assim designada pelos mais próximos. ...Em síntese, eu digo que Almeida era o cérebro, fulcro de ideias criadoras; e Dona Márcia, o espírito, a alma indulgente  que iluminava as escolas e as fazia expandir-se harmoniosamente. ...deu-lhe carinho e objetivo apoio. Penso que sem ela não haveria as Escolas Caio Martins."
            Eu complemento, após ler o livro: edificaram a vida a dois, "tocando o piano com quatro mãos".
            E a vida, o que é a vida?
            Travessia? Caminhada? Elo entre duas eternidades?
            "Cada indivíduo constrói a sua própria lenda". "Cada um deixa/entrega a sua mensagem"       Felizes aqueles que compreendem e compreenderam o verdadeiro sentido da vida. De nossa travessia, não levamos nada... podemos deixar templos edificados e pessoas responsáveis por dar continuidade à nossa obra.
            Manoel José de Almeida está entre nós!
            Belo Horizonte, 22 de setembro de 2012.

            Edgar Eleutério Cardoso
            Cadeira Nº 9